quarta-feira, 30 de julho de 2014

Identidade

Em 1994 eu tinha a idade do meu filho e, com sete anos, não ficava em dúvida sobre a camisa a ser utilizada pelo time nesta ou naquela partida. Era verde e branca, ou branca e verde, em resumo: inconfundível.

O burlesco embaraço que hoje meu filho enfrenta em infindáveis partidas do Palmeiras, sobretudo neste ano de centenário, eu jamais enfrentei na infância. Confusões com diferentes tons de verde, diferentes azuis, dourados, amarelos e deploráveis combinações do verde com o branco.
Esta aparenta ser uma preocupação de aspecto bobo, indigna de atenção até. Não é! Não tratamos aqui de beleza, não se trata de um simples padrão ou, como alguns podem supor, conservadorismo. Tratamos aqui, amigos, de tradição.

É deprimente ver um time que não se identifica com a própria torcida. O verde ostentado na arquibancada é autêntico, é vivo, já o verde que corre desorganizado em campo está visivelmente desbotado, sem brilho e sem seu já carunchento orgulho. O Verde sofre.

Fato muito parecido ocorre com a escalação do time que vai a campo. Tempos atrás havia (há quem diga que ainda há) uma máxima mais ou menos assim: "Um Palmeirense que se preze tem a escalação na cabeça". Estou certo de que muitos ainda guardam consigo cada nome, sobrenome e apelido daqueles que formaram times capazes de honrar a camisa e orgulhar aqueles que incansavelmente lhes aplaudiam da arquibancada. Hoje não mais.
Durante um jogo, hoje meu filho questiona: "Pai, quem é esse cara?". Em um fim de semana despretensioso ele me abordada outra vez: "Mas pai, é o Allan Kardec com a camisa do SPFC? O que ele está fazendo lá?". Não que NOMES façam do time o que ele é por essência. Mas a ausência deles não nos permite vencer (e vencer definitivamente não é superar Avaís da vida).

Na arquibancada, avesso a qualquer jogador, meu garoto confuso assiste o Palmeiras. Mas torce por nós.
O gol provoca o grito, libera as emoções, produz abraços. A vitória rende animadas e pueris conversas na longa volta para casa. Cada lance é rememorado, cada jogada é veementemente narrada.
A derrota por sua vez traz melancolia. A viagem para casa torna-se silenciosa, gelada. Eu dirijo, ele dorme.
Cada fracasso destrói a possível existência de novos agradáveis momentos.

Mas um infortúnio não deveria causar tanto dano, afinal de contas um revés é apenas um revés, ora! Algo previsível e parte integrante do futebol, pois como bem dizem: "A possibilidade da derrota é o que dá sabor à vitória!" Sim, mas não no nosso caso, não nas atuais condições. Os reveses alviverdes vêm sendo produzidos dia após dia, gestão após gestão, pela execrável abdicação de sua identidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário