segunda-feira, 4 de maio de 2015

O que vale é o Futebol

Meu parceiro de Futebol tem me acompanhado regularmente nos estádios desde 2012. Ele tem 8 anos de idade e comemorou comigo a conquista da nossa última Copa do Brasil. Aquela, daquele ano, quando também caímos.

Ano passado, assim como em 2013, estivemos com o Palmeiras em boa parte das partidas; Barueri, Pacaembu, Morumbi, Palestra.
Eu já era Avanti, ele ainda não. Não precisava, sua idade lhe garantia entrada livre não para empurrar seu time a mais um título, mas para ser mais um a gritar e dar forças ao nosso limitado elenco profissional e fazer com que os jogadores tentassem, ao menos,  manter o time na divisão principal.

2014 foi um teste para o pequeno Palmeirense que, diga-se, estava ainda em formação. Vimos - eu e ele - no Pacaembu, a eliminação no Paulista diante do Ituano. Estávamos também no Municipal quando perdemos o primeiro jogo das oitavas de final da Copa do Brasil para o Atlético-MG, 1x0. A eliminação foi confirmada no jogo seguinte, no Independência, 2x0.

Acompanhamos, firmes e fortes, nosso time definhar dolorosamente durante todo o campeonato Brasileiro.

Já era novembro e estávamos agonizando quando chegamos à rodada de número 35, beirávamos perigosamente o precipício do rebaixamento, 14ª colocação.

Mas estrearíamos nossa casa nova. Com o Palestra de volta reconquistaríamos nosso lugar, somos grande afinal (Nós: o Palmeiras). A vítima seria o Sport. Era sobre ele que nossa volta por cima teria início.

Mas em sua própria casa, o pequeno Palmeirense já não tinha mais a entrada garantida para apoiar o time que tanto apoiou em Barueri, no Pacaembu, no Morumbi. Para ser mais uma voz a empurrar o Palmeiras, o garotinho de 8 anos precisa agora pagar.

E assim foi feito; para continuar apoiando seu time, que estava à beira de mais um vexatório rebaixamento, Vitor, meu filho de 8 anos, pagou 200 reais e pôde presenciar mais uma histórica e vexatória derrota para um time inexpressivo, mas dessa vez em sua nova e moderna casa.

Aquele 19 de Novembro marcou a estréia do (estádio) Allianz Parque, foi uma festa; discursos, músicas, palhaços, brincadeiras, fogos de artifício. 36 mil torcedores presentes, R$4.915.835,00 de renda bruta. Mas o Vitor não liga pra isso, ele liga para o Futebol.
E naquele dia, pela primeira vez pelo Palmeiras, Vitor chorou.

2015, campeonato Paulista. Acompanhamos - Vitor e eu - cada passo do Verde rumo a mais um título estadual.

Time completamente renovado, treinador recém chegado, casa nova, torcedor novo.

Voltamos a vencer os principais rivais, massacre contra o São Paulo, eliminação do Corinthians em pleno Itaquerão.

Voltamos com tudo, em 6 meses nos reerguemos, time competitivo, vitórias taxativas, derrotas pontuais.

Chegamos à final. E quando o assunto deveria ser Futebol, passaram a falar sobre economia e outros assuntos aleatórios; renda bruta, renda líquida, receitas, patrocínios, camisas valiosas, lucros, cifrões, centenas de milhares de sócios torcedores.

Mas o Vitor não se importa com isso. Ele se importa com o Futebol. Foram duas semanas de perguntas e comentários. Pai, o jogo vai ser na Vila ou no Pacaembu? Onde vamos assistir? Vai passar na TV? O Valdívia joga? E o Dudu? O Prass é monstro! Você coloca a camisa verde em mim? Ou prefere a branca nova? Cadê a bandeira? Vai pendurar na parede?

Chegou, enfim, o dia 3 de Maio.

Por sua renda de 23 milhões, seus 118 mil sócios torcedores, o Palmeiras alcançou à final do campeonato Paulista exaltado pela mídia. O primeiro jogo da final gerou 4 milhões de renda, recorde do campeonato.
Mas o Vitor não dá a mínima para isso.


Era por volta das 19 horas, e neste dia, pela segunda vez pelo Palmeiras, Vitor chorou.

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Texto de autoria minha, orignalmente publicado no site Turiassú 1840

quarta-feira, 25 de março de 2015

Imponência

Ramsés foi um faraó de imponência invulgar, não era preciso força ou violência para que isso fosse revelado. Sua presença bastava.
Ainda jovem, fora colocado à prova por seu próprio Pai. Nesta prova ele haveria de enfrentar – sem armas – nada menos que um leão. Ramsés saiu vitorioso.

Alguma prova maior de fibra? De domínio sobre seu oponente? De bravura? De imponência?

Na era de Ramsés, o Egito se curvou perante aquele que seria o mais poderoso monarca já visto. A postura do jovem era deveras diferenciada. Um simples lançar de olhos era uma ordem proferida. O poder emanava de seu corpo, toda a população o respeitava, seus inimigos o temiam.

A natureza do Verde também exige que sua imponência seja evidenciada apenas por sua presença. A entrada do time em campo deve ser intimidadora, a marcação precisa ser firme. O toque de bola suntuoso. A precisão de cada ataque deve ser fatal.

Por mais que a luta seja árdua, o dever do Palmeiras é combater seu rival com fibra e honra. Por mais forte que seja o oponente o time deve ostentar sua garra durante toda a peleja. Sem preguiça, sem apatia, sem escanteios curtos.

O campeonato estadual e seu pobre nível de segunda divisão, não nos coloca à prova. Os leões com quem lutamos nesta fase da competição, nem de longe se assemelham àqueles para os quais a Academia foi concebida para enfrentar.

A grandeza da Academia deve ser estimada apenas, e tão somente, através das batalhas travadas com adversários do mesmo escalão.

Hoje será a terceira e última partida importante a ser jogada pelo Palmeiras na primeira fase do Paulista, os outros dois perdemos. Que essa seja diferente.
Que além de um ótimo público e uma ótima renda tenhamos algo a ser verdadeiramente comemorado. Uma vitória, sobre um rival. É o desejo da torcida, é o que a alma do futebol da Academia enseja, uma noite de glória.
À vitória, Palestra.